Perguntamo-nos o que
significa realmente um paradoxo? Trata-se de uma figura de linguagem, que consiste em associar afirmações aparentemente contraditórias, ou uma situação
inversa à intuição comum. Em termos simples, é o oposto daquilo que alguém
pensa ser a verdade. Quem costuma visitar sites e blogs vai se deparar com pensamentos do ator
George Carlin, em que descreve vários paradoxos de nosso tempo. Há afirmações
que nos remetem ao Evangelho, tais como: “Já fomos à lua e dela
voltamos, mas temos dificuldade em atravessar a rua e nos encontrar com nosso
novo vizinho. Conquistamos o espaço exterior, mas não o interior. Às vezes limpamos o ar, mas poluímos as almas.
Dominamos o átomo, mas não os nossos preconceitos. Falamos mais e aprendemos
menos. Corremos mais, mas não sabemos esperar”.
No
entanto, foi o próprio Cristo o autor dos paradoxos mais surpreendentes que
talvez possamos conhecer. É lapidar a sua frase: “Pois quem quiser salvar a sua vida, a
perderá, mas quem perder a sua vida por causa de mim, a encontrará” (Mt
16, 25). No Sermão das Bem-aventuranças encontramos a expressão mais paradoxal
do cristianismo. A um mundo voltado para a violência e a vingança, o Filho de
Deus prega a paz e a mansidão. Aos preconceituosos, contrapõe a pureza e o
desarmamento do coração. À sociedade que valoriza o ter, recomenda o
despojamento e a pobreza. Aos egoístas e insensíveis, coloca diante deles a
misericórdia.
Há ensinamentos de Cristo que nos desafiam. Vão
de encontro à lógica dos homens. Sua mensagem, por vezes, entra em choque com a
realidade do mundo. Ensinou que os humildes serão exaltados. O balão do orgulho
pode subir a grandes alturas, mas de tanto inflar, acabará explodindo. Jesus é
o nosso maior exemplo “Despojou-se, tornando-se homem. E encontrado em aspecto
humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz!” (Fl
2,7-8). Foi categórico e lançou, ao mesmo tempo, um alerta e desafio, ao
afirmar: “Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será
exaltado” (Lc 14, 11). E convida-nos a segui-lo: “Aprendei de mim que sou manso
e humilde” (Mt 11, 29)
O que poderia ser mais paradoxal do que o Filho
de Deus, Senhor do Universo, ajoelhado, lavando os pés de seus discípulos? ”Derramou água numa bacia, pôs-se a lavar os pés dos discípulos e
enxugava-os com a toalha que trazia à cintura” (Jo 13,5). E, com esse gesto, não era a primeira vez que chamava a atenção sobre o valor da
humildade. Sendo tão humilde, Cristo é
desconcertante para muitos. Ele, o único que poderia ter escolhido como
desejava nascer, entrou nesta vida anonimamente, sem a pompa das côrtes e dos
palácios. E ensinou: "Eu, porém, estou no meio de vós, como aquele
que serve" (Lc 22, 27b). E, "quando ultrajado, não revidava com ultraje"
(1Pd 2, 23). Certa feita, quando alguns apóstolos
mostraram espírito de competição e sede de poder, colocou uma criancinha ao seu
lado e disse-lhes: “Quem receber em meu
nome esta criança, estará recebendo a mim. Pois aquele que, entre todos vós,
for o menor, esse é o maior” (Lc
9, 47-48).
O apóstolo Paulo, à semelhança do Mestre da
Galileia, escreve, de forma insólita, palavras compreensíveis apenas à luz da
fé. Somos mais fortes quando estamos enfraquecidos. “Pois, quando estou fraco,
então é que sou forte” (2Cor 12, 10b). Aprendeu a fortalecer-se em Cristo.
Quando vivemos unidos a Ele, recebendo diariamente sua graça, poderemos até
parecer frágeis, mas, na verdade, é quando estaremos mais fortes. “Nada sou,
nada posso, mas, tudo posso, naquele que me fortalece” (Fl 4, 13), exclama São
Paulo, descobrindo o segredo que o tornou “mais que vencedor” (Rm 8, 37) e por
isso reconhece e confessa: “... de bom grado, gloriar-me-ei das minhas
fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim” (2Cor 12, 9).
Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.
Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho - "O CRISTIANISMO É PARADOXAL"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2014/03/o-cristianismo-e-paradoxal.html
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