terça-feira, 5 de novembro de 2013

SALMOS – CONVITE À ORAÇÃO


O que significa rezar? É importante? Que lugar ocupa em nossa vida? Estas e outras perguntas assomam à consciência do cristão. Os evangelhos relatam que Jesus passava noites inteiras em oração, a sós com Deus (Lc 6,12). Os apóstolos pediram a Jesus que lhes ensinasse a rezar. Assim, permaneceram em prece, esperando com Maria a vinda do Espírito Santo (At 1,22). Lucas narra que os primeiros cristãos “eram perseverantes na oração” (At 2,42). Paulo orava incessantemente e recomendava o mesmo aos fiéis (Ef 1,16; Fl 1,4; Rm 12,12; Cl 4,2). Inegavelmente, a oração é uma manifestação da fé e da vida eclesial.
No tempo de Cristo, os mestres ensinavam os discípulos a orar. Existem muitas maneiras de rezar hoje, assim como vários “mestres de oração”. Jesus desaconselhava a oração dos hipócritas (Mt 6,5), que rezavam apenas com os lábios, mas cujo coração estava longe de Deus (Mc 7,6), Ele advertia também para não orar como os pagãos, que pensavam convencer Deus com muitas palavras (Mt 6,7). Cristo, então, ensinou o Pai Nosso (Mt 6,9-15; Lc 11,2-4), mostrando que a prece é diálogo com o Pai.
Rezamos, às vezes, de maneira abstrata, como se Deus fosse algo que pudesse ser capturado com palavras ou ritos mágicos. O batismo tornou-nos seus filhos e permitiu dirigirmo-nos a Ele, como Pai. E a um pai, falamos com confiança e simplicidade. Não somos estranhos a Deus, nem Ele a nós. Por isso, nossa prece se traduz em agradecimento, súplica, desabafo, pedido de perdão etc. É um ato de amor e intimidade com nosso Pai. Diante Dele, somos crianças e, como tal, podemos nos sentir em seu colo, falar-lhe livremente, chorar, permanecer envolvidos em sua ternura, sem dizer uma só palavra. Eis o que também é rezar.
Não devemos esquecer a beleza e a importância da oração, a partir dos salmos. Quanta inspiração encontramos ali, onde o salmista traduz, de maneira iluminada, nossos sentimentos e estado de alma. Eis o exemplo do Salmo 71/70. Trata-se de uma prece que nos mostra a existência terrena. Primeiramente, há um ato de fé: “Ó Deus, sois minha esperança! Aprendi a confiar em vós desde a minha juventude, sois meu amparo, desde o seio materno. Vós me conheceis, desde que eu nasci” (v 5-6). Continua externando sentimentos de gratidão aos céus por seu amor e o reconhecimento pela generosidade e misericórdia divinas. “Por isso agradecido vos louvo sem cessar... Porque vossa graça tem agido em mim. Minha boca está cheia de louvores, não paro de glorificar-vos, Senhor meu Deus!” (v 6-8).
         Mas, o salmista tem consciência de que ao avançarmos em idade, vamos perdendo a firmeza e aumentando os medos. Conhece nossa fragilidade e efemeridade. Por isso, assim clama: “Não me abandoneis agora que estou ficando velho e vou perdendo o vigor humano (v 9). Não fiqueis longe de mim, ó Deus!”! (v 12). Mesmo que tenhamos sido fiéis ao longo de nossa vida, não deixamos de ser pecadores, nem sempre agimos corretamente. Mas, isto não deve apagar nossa esperança em Deus. O importante é saber arrepender-se e confiar no amor e perdão infinito do Pai. É o que o Salmo 71/70 nos ajuda a fazer em sua parte final: “Quanto a mim, sempre esperarei em vós e quero louvar-vos cada dia com mais fervor. Celebrarei, agradecendo as grandes obras que fizestes e a justificação pela qual somente vós nos dais a salvação” (v 14-16). “Vós, ó Deus, me tendes instruído desde a juventude e, desde então, venho cantando a grandeza de vossas maravilhas. Agora estou velho e meus cabelos estão brancos, mas vos peço: Senhor, permanecei comigo para que eu possa anunciar às novas gerações o vosso poder sem igual” (v 17-18). Que também a nós o Senhor conceda mais fé, alegria, gratidão e ternura, enquanto permanecermos peregrinos nesta terra!





Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.








Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho - "Salmos - Convite à Oração"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2013/11/salmos-convite-oracao.html

A VIRTUDE DA GRATIDÃO


A gratidão é uma das grandes virtudes do ser humano. Madre Teresa de Calcutá a definia como “a delicadeza da alma” e Esopo, “a virtude das almas nobres”. Jesus tratou desse tema com os seus discípulos. Lamentou a ingratidão. Há algumas semanas, na missa dominical, lemos a narrativa de Lucas, no capítulo dezessete (Lc 17, 11-19) sobre a cura dos dez leprosos por Cristo. Todos foram agraciados, após suplicarem: “Mestre, tem compaixão de nós” (Lc 17, 13). Um dos leprosos, ao perceber que havia sido curado, voltou glorificando a Deus, em alta voz, e prostrando-se aos pés do Senhor,  agradeceu-lhe. Então Ele perguntou: “Por acaso, não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão?” (Lc 17, 17).
Jesus ressaltou que apenas o samaritano voltou para agradecer o milagre. E com isto ensina-nos que a sensibilidade humana não é determinada pela raça, religião, cultura ou classe social. É uma questão de maturidade, cultivada pela experiência de saber reconhecer os dons recebidos. A gratidão transforma nossos corações e ilumina nossos olhos. Permite-nos entender a vida de modo diferente. Quem dá, participa do mistério do Pai, que concede tantos bens e graças a seus filhos. Agradecer é a consciência dessa gratuidade.
A gratidão faz crescer, no coração do homem, o sabor pela bondade. Ajuda-nos a eliminar sentimentos que obscurecem a mente e o coração, fecundando o desejo de ser bom. Dissipa os males que enfraquecem a compaixão e fortalecem a indiferença. Ajuda a vencer a soberba e a inveja, tantos outros vícios e erros de uma sociedade, que adota as dinâmicas desastrosas da disputa e do ódio.
São Francisco afirmou que “a gratidão é uma das moedas mais difíceis de ofertar na vida”. Por isso, preocupava-se sempre em ser grato a tudo e a todos. Agradecia ao irmão sol por aquecê-lo e proporcionar vida à terra; ao irmão vento por acariciá-lo e à natureza, nos dias de calor; à irmã lua por enfeitar as noites de céu claro; ao irmão sofrimento, que lhe permitia aprendizados sobre o viver humano. O exemplo do Poverello de Assis remete-nos a profundas reflexões, neste tempo em que predominam a insensibilidade, o desinteresse, o desrespeito e o descaso pelo outro. Na desenfreada busca pelo sucesso, pela sobrevivência, pelas tarefas cotidianas, vivemos encastelados, envoltos em nossos problemas e desafios. Nesse tumultuar de compromissos e dificuldades, não paramos para perceber tudo aquilo que Deus nos dá e, egoisticamente, esquecemo-nos de agradecer.
Os amores dos filhos que, aconchegados em nossos braços, parecem diluir as dores da alma, quem no-los ofertou? A possibilidade do progresso profissional, os desafios de crescimento humano, as chances de desenvolvimento do intelecto, a paz interior, o bem-estar do espírito, quem nos concede? O corpo, que nos é instrumento de expressão, trabalho, convivência, emoções, quem no-lo presenteou? E nós, mal nos damos conta da grande bênção da saúde, quando nossa corporeidade, apesar das deficiências ou limitações, oferece-nos oportunidades riquíssimas.
            Temos o costume de agradecer à vida e a Deus pelas nossas conquistas e alegrias? E também, por que não sermos gratos ao Pai pelo mal que não nos atingiu, pelas dores que não precisamos suportar? E mesmo que os dias difíceis nos cheguem à jornada terrestre, agradeçamos a dor, que lapida a alma  imperfeita, fazendo brotar virtudes que ainda permanecem latentes em nossa intimidade. Deveremos sempre recordar que dependemos da bondade e misericórdia do nosso Criador, o qual nos sustenta na caminhada. A gratidão será o sentimento que nos inundará a alma de bênçãos divinas, doce quietude e suave luz.






Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.
Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho - "A Virtude da Gratidão"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2013/11/a-virtude-da-gratidao.html