quarta-feira, 31 de julho de 2013

LUMEN FIDEI (LUZ DA FÉ)


A primeira Carta Encíclica de Francisco dá o tom de seu estilo pastoral, apesar do projeto inicial ter sido concebido por Bento XVI, que ali traçou algumas ideias. No entanto, o uso de certas expressões, a riqueza de imagens a que faz referência, algumas citações de autores antigos e modernos fazem desse texto uma introdução ao pensamento do atual Pontífice, permitindo melhor compreensão de sua visão teológica.
No documento, Francisco emprega basicamente três verbos: caminhar, construir, confessar. São os mesmos de sua primeira homilia aos cardeais, no dia seguinte à sua eleição. De certa forma, podemos dizer que a encíclica está estruturada sobre este eixo. Dividida em quatro capítulos, mostra que se deve continuar a experiência que a Igreja viveu durante O Ano da Fé, com tantos fatos significativos.
Há encíclicas que se tornaram famosas pelo seu conteúdo, por exemplo, a Rerum Novarum (1891), de Leão XIII. Outras passarão à história pelo caráter inédito de sua gênese. É o caso da Lumen Fidei. O texto escrito a quatro mãos tem de insólito o fato de que os dois protagonistas estão vivos: um papa emérito e outro reinante. Não seria um caso sem precedentes, se Bento XVI fosse falecido, pois a primeira Carta de Ratzinger (Deus caritas est) utilizou material póstumo de João Paulo II. A novidade, portanto, está no fato da Lumen Fidei ter dois coautores. É o que expressa Francisco no começo do documento: Bento XVI “já tinha completado praticamente uma primeira redação desta carta encíclica sobre a fé. A ele agradeço de coração e, na fraternidade de Cristo, assumo o seu precioso trabalho, acrescentando ao texto algumas contribuições”.
No século XX, Pio XI bateu recorde em matéria de encíclicas, escrevendo quarenta e uma. No entanto, Francisco é o papa que publica a primeira em menos tempo, (quase quatro meses), após ser eleito. Mais rápido ainda que João Paulo II, ao escrever Redemptor hominis, no sexto mês de seu pontificado
Desde sua eleição como Papa, Bergoglio vem insistindo sobre a centralidade da fé. Parece-nos que seu programa está sintetizado na última parte da encíclica: “A luz da fé não nos leva a esquecer dos sofrimentos do mundo. Quantos homens e mulheres de fé receberam a luz das pessoas que sofrem! São Francisco de Assis, do leproso; a beata Madre Teresa de Calcutá, dos seus pobres”. 
Talvez pudéssemos resumir a Lumen Fidei em poucas palavras: um humanismo evangélico. “A fé não é a luz que dissipa todas as nossas trevas, mas é uma lâmpada que guia nossos passos na noite e isto basta para o caminho. Não é prestar assentimento a um conjunto de verdades abstratas, mas fazer a vida entrar em comunhão plena com o Deus vivo”.A fé não é obscurantista, tampouco intransigente. É a primeira vez que um papa fala nisso, contradizendo a tese de alguns:“ o catolicismo não pode se separar da intransigência”.  Na Lumen Fidei, o Papa diz claramente que o católico não pode ser arrogante. Ao contrário, deve ser humilde, pois se refere a uma verdade que não lhe pertence: o Deus do Amor e da Misericórdia. Sem dúvida, é uma mensagem cheia de paz, sabedoria e bondade.
Francisco, pouco a pouco, está ocasionando mudanças na Igreja e na relação desta com a sociedade. Seus gestos têm mostrado uma nova face do catolicismo. Assim o fez, quando afirmara que deseja uma Igreja pobre e para os pobres ou anunciou que “para minha própria saúde mental, fico morando em Santa Marta, porque não quero viver isolado”. Ou, ainda, quando, em audiência para seis mil seminaristas e noviças, num discurso improvisado, asseverou:“dói ver uma freira ou um padre com o último modelo de carro”. Em Roma, há quem antecipe que, após a Lumen Fidei, logo virá outra, tendo como eixo a bem-aventurança bíblica dos pobres.






Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor

Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho - "Lumen Fidei"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus 



domingo, 28 de julho de 2013

Gestos do Papa Francisco






São Francisco de Assis converteu-se, ao ouvir o Crucifixo da capela de São Damião lhe dizer: “Francisco, vai e restaura a minha casa. Ela está em ruínas” (cf. Legenda Maior II, 1). No inicio, não entendeu a revelação e tomou ao pé da letra as palavras, reconstruindo a igreja da Porciúncula. Após meditar e rezar, compreendeu que se tratava de algo espiritual: reconstruir a “Igreja que Cristo resgatou com seu sangue” (op.cit). Foi então que começou um movimento de renovação da Igreja. Morou com os hansenianos e de braço com um deles percorria as ruas e estradas, anunciando o Evangelho. Não era sacerdote, mas simples leigo. Os papas de sua época proibiam aqueles que não eram ordenados de pregar. Por isso, quase no final de sua vida, aceitou ser diácono para se tornar ministro da Palavra de Deus.

O Cardeal Bergoglio inspirou-se na vida do Santo de Assis. Percebeu uma Igreja mergulhada em ataques, críticas e escândalos. Então, sentiu que tinha como missão restaurá-la. Por isso, Francisco não é apenas um nome, escolhido pelo Papa. É muito mais. Representa uma visão de Igreja simples, pobre, humilde e maternal, que trata a todos indistintamente como filhos.
São Francisco foi obediente à Igreja, mas, seguiu seu próprio caminho, ensinando um evangelho de pobreza, caridade e simplicidade. Bento XVI, ainda quando era simples padre, escreveu que a vida do “Poverello de Assis” é um “protesto profético”. Não fez discursos, pronunciamentos eloquentes, simplesmente mostrou uma nova face da Igreja, voltada para os que sofrem, despojada, preocupada com o Evangelho e não com a honra e a glória.
Na sua primeira aparição em público, Francisco mostrou que tem em mente uma Igreja fora dos palácios e dos símbolos do poder. Não usou a mozeta, bordada e com brocados de ouro. Chegou simplesmente vestido de branco e com a cruz de bispo. Pediu humildemente que rezassem por ele. Somente após orar com o Povo de Deus, abençoou os fiéis reunidos na Praça de São Pedro. Aparece como servidor, “servo dos servos de Deus”, como se escreve nos documentos oficiais da Igreja. Evitou a pompa e a exaltação. Passou uma imagem de serenidade, ternura, bondade e amor. Irradiava paz e confiança Não usou da retórica vaticana. Falou como um pastor ao seu rebanho.
Recentemente, alguns jornais italianos publicaram uma foto do Papa preparando-se para celebrar uma missa, cujos convidados eram os jardineiros e o pessoal de limpeza do Vaticano.  No início da celebração, pede que rezem em silêncio por ele e por todos. Levanta-se da cadeira presidencial e vai sentar-se no final da capela para fazer sua  oração. Prefere que contemplem a verdadeira razão da sua existência: o Cristo Eucarístico. Na foto, vê-se a diferença entreo lider e o chefe. Este sempre se coloca em evidência, pondo-se à frente para que todos o vejam e lhe obedeçam. O líder sabe quando sentar atrás. É capaz de desaparecer no momento oportuno, para que outros cresçam e se voltem para quem é verdadeiramente importante. Na fotografia, o admirável Francisco está de costas.  Talvez muitos desejassem vê-lo de frente, mas quis ficar naquela posição e volver a face para Cristo, o irmão de todos.
Quantos chefes, até mesmo eclesiásticos, terão a postura de ir sentar-se numa cadeira, no fundo da sala? Terão coragem e humildade de voltar às costas aos aplausos, aos cliques dos fotógrafos, aos microfones, às câmeras,aos elogios, às palmas e mostrar um coração despido de vaidade e ostentação?










Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor




Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho - "Gestos do Papa Francisco"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus 

http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com/2013/07/gestos-do-papa-francisco.html