I – Vida e
Personalidade
Rita nasceu em Roccaporena, pequeno
povoado ou aldeia da Úmbria italiana, região famosa não somente pelas belezas
naturais, mas por ser o berço de muitos outros santos como São Bento, Santa
Escolástica, São Francisco de Assis e muitos outros. Seus pais se chamavam
Antônio Lotti e Amada Ferri, foram sempre modelos de piedade, caridade,
santidade, pela grande devoção a Paixão de Cristo e por promoverem a paz nas
famílias, pertenciam às antigas famílias nobres de Cássia embora se dedicassem
aos labores dos campos.
A maior riqueza que receberam foi o
nascimento de uma filha em virtude da idade avançada, segundo Cavalluci o
primeiro biógrafo, a gravidez de Amada fora indicada em oração por um anjo
(CAVALLUCI apud MAESTRO, 2012). Quanto à data do seu nascimento não há uma
precisão, o sacramento do Batismo fora recebido poucos dias depois com o
sacramento da Crisma (como era de costume em regiões que havia poucos
sacerdotes para conceder os sacramentos), recebendo também o nome de Margherita
Lotti, que mais tarde foi reduzido a Rita afetuosamente pelos próprios pais.
Quanto à data da sua primeira comunhão não há indícios precisos, ao que sabe
ela teria cerca de doze anos, questiona-se também o fato da mesma ser letrada
ou não, bem sabemos das dificuldades de escola naquela época, provavelmente
aprendeu a ler e escrever.
Um fato marcante de sua infância
ocorrido ainda nos seus primeiros meses de vida foi o de que um dia seus pais
precisaram ir aos campos e tiveram que levar a criança junto, que foi deixada
embaixo da sombra de uma árvore num pequeno cesto enquanto os mesmos trabalhavam,
quando um grande enxame de abelhas a envolveu, as abelhas zuniam em torno de
sua boca e orelhas, mas não a picavam, alguns autores dizem que depositavam
gotas de mel em sua língua enquanto a criança sacodia alegremente as mãos e
dava gritinhos de alegria, no mesmo instante um ceifeiro havia se ferido com
seu instrumento de trabalho, e ao se dirigir ao hospital passou diante dessa
cena na tentativa de salvar a criança das abelhas, espantou-as balançando as
mãos, nesse mesmo momento o seu sangramento cessou e a ferida se fechou.
Conta-se ainda que mais tarde essas abelhas iriam compor o cenário do mosteiro
que Rita ingressaria.
De sua criação é forçoso dizer que
aprendeu o necessário sobre Jesus Cristo e a Virgem Maria, desde a sua tenra
infância demonstrou ter gosto pela oração e o recolhimento, um fato
interessante é que a pequena menina aos doze anos conseguiu de seus pais um
cômodo particular para dedicar-se a esta prática. Personalidade serena e
caráter bondoso a definiam, ao ponto que o desejo de consagrar a vida a Deus de
certo era perceptível, no entanto seus pais haviam envelhecido e requeriam
atenção (MAESTRO, 2012).
Uma escolha determinaria a sua
adolescência, o seguimento da vida religiosa ou obediência à vontade dos pais
para que a mesma contraísse matrimônio. Com quatorze anos depois de muito
rezar, pedindo a luz de Deus optou por obedecer aos pais, casando com Paulo
Fernando di Mancini, ao que se consta o seu matrimônio não foi um drama como
assim demonstram alguns biógrafos, Rita foi movida não pelo temor, mas pelo
amor e obediência aos pais. Deus sempre ajudou a sua serva a cumprir sua
vontade embora alguns biógrafos relatem Paulo Fernando como colérico, altivo e
rude, beberrão e violento, o que se sabe é que o mesmo possuía um caráter
humilde que o fazia reconhecer a culpa e pedir-lhe perdão por suas atitudes,
sempre se considerou indigno de uma esposa tão santa.
A vida de oração cultivada desde a
infância resplandece na sua idade adulta, graças as suas súplicas mais tarde
alcançaria a salvação da alma do esposo, viveram com autenticidade o
matrimônio, na cumplicidade e responsabilidade para com os deveres próprios, não deixava de realizar
suas obras de caridade para com os necessitados que aprendera ainda com seus
pais. Com o nascimento dos filhos relata-se que o amor para com os filhos e a
esposa sucumbiu à cólera de Paulo Fernando, o primogênito recebeu o nome de
João Tiago e o segundo de Paulo Maria, os mesmos foram educados segundo as
virtudes cristãs, a sua fé e piedade fizeram de seu matrimônio um terreno onde
a mão do próprio Deus arava aquela terra e a enchia de amor, o lar de Nazaré ao
que parece era o modelo de família que Rita desejava imitar.
Após muitos anos Paulo Fernando é
assassinado brutalmente pelos seus inimigos, embora as orações de sua esposa
tivessem-no modificado, o ódio presente no coração daqueles homens clamava por
vingança. Ao saber da notícia, Rita se depara com o marido morto e o acolhe em
seus braços, perdoa os assassinos e clama imediatamente ao Senhor que livre os
seus filhos do joio da vingança. O desejo da paz que ela tanto desejava não se
concretizou, pois a fúria havia se apoderado da família Mancini, que incitava
os filhos da pobre viúva. A fim de zelar pela alma dos seus amados filhos
suplica a Deus que os tire deste mundo antes que a perdessem pelo desejo de
vingança, para que o ódio fosse dissipado de seus corações.
Com um intervalo de apenas um ano,
de causas naturais desconhecidas os filhos de Rita adoecem, como uma boa Mãe
providenciou tudo que lhes fosse necessário para o bem estar físico, mas
sobretudo o espiritual, fazendo com que perdoassem os assassinos de seu pai e
assim morressem na paz de Deus.
Sozinha no mundo experimenta a
intensidade do amor de Deus, enfrentaria ainda contratempos com a família do
seu esposo que na sede de vingança e inconformidade com a morte dos herdeiros
desejavam saber o nome do assassino de Paulo Fernando, ao ponto de tomarem uma
parte de seus bens por direito e abrigar-se numa humilde aldeia. Mesmo em meio às
perseguições da família do esposo e da sociedade dedicasse com mais estima a
oração, obras de caridade para com os pobres de modo que despontava novamente o
desejo de consagrar sua vida a Deus no convento das agostinianas de Cássia.
Desde a infância tinha acesso a
forma de vida Agostiniana a qual desejava ter abraçado na juventude, porém não
o fez como já citamos, o chamado de Deus é sempre arrebatador e fugaz e
inflamava o coração daquela senhora. Por si mesma faz a Deus uma oferta de si
mesma, para cumprir sua promessa procura o Mosteiro de Santa Maria Madalena,
todavia o seu pedido de ingresso fora negado três vezes, pois as monjas não
concebiam a ideia de dar o hábito a uma viúva, longe de desistir Rita se
entregava as orações em meio ao pranto, humilhando-se na presença de Deus.
Nutria devoção com toda certeza a
Santíssima Virgem por meio da perfeita imitação de suas virtudes, e
particularmente pelos santos: São João Batista, Santo Agostinho (pela
experiência com a sua espiritualidade desde a infância), Santo Nicolau de
Tolentino (santo estimado da ordem Agostiniana) e Santa Clara de Montefalco
(pelo seu amor a Cristo crucificado e a Eucaristia, motivo pela qual duramente
se mortificava). Contam os seus biógrafos que numa noite teve uma visão
especial na qual viu São João Batista convidá-la a subir ao cume de um lugar
chamado Schioppo, prontamente ela compreendeu que se tratava de um convite a
uma perfeição espiritual, pôs-se a subir com ele a rocha do Schioppo. No mesmo
relato conta-se que apesar do seu temor e anseio fora reconfortada por ele
juntamente com Santo Agostinho e São Nicolau Tolentino, ainda conforme o relato
Rita foi milagrosamente transportada ao convento por estes três santos.
A sua admissão não era bem quista
pelas monjas, porém qual não deve ter sido a surpresa das monjas ao acordar e
se deparar com a viúva de Roccaporena no pátio do mosteiro, onde não havia
indícios de arrombamentos nas portas? Na vida dos santos tudo foge a regra,
pois é o Deus quem as faz! Este fato recebeu mais tarde o nome de “Visão”, fora
recebida no convento, livre de qualquer impedimento para seguir a Cristo,
admoestada sobre a regra de vida Agostiniana, foi submetida a uma prova de
obediência por parte da Madre Superiora que lhe ordenou que regasse um talo
seco, que viraria por milagre divino uma linda videira.
Tinha cerca de 36 anos quando
ingressou no Mosteiro tendo sempre em mente a Palavra de Deus e a regra de
Santo Agostinho, após três anos professou definitivamente os votos de castidade,
pobreza e obediência. Bem sabemos de sua grande devoção a Paixão de Cristo,
porém um fato selaria tal devoção, de livre vontade ofereceu-se como vítima
para sofrer as dores da paixão do Senhor, sofrer com Ele... Um dia enquanto
rezava diante de um crucifixo rogando ao Senhor que lhe concedesse uma mínima
parcela de seu sofrimento, um espinho da coroa de Jesus feriu a sua fronte de
tal modo que a chaga permaneceu impressa e incurável até a sua morte, de modo
que a ferida tornou-se um estigma. Uma única vez suplicou ao Senhor que
retirasse aquela chaga quando teria que ir até Roma peregrinar com as outras
irmãs, nesta visita conta-se que a ela recebeu a Unção dos Enfermos. A fétida
ferida era a recompensa para esta serva de Deus que desejou sempre sofrer com
Cristo, a chaga permaneceu cerca quinze anos.
Com idade avançada e por possuir uma
ferida que não cicatrizava ficou isolada numa cela, saindo poucas vezes, de
quarto, sua morte segundo o relato de suas irmãs de clausura fora anunciada por
Jesus e a Virgem Santíssima que lhe apareciam em êxtase. Novamente um fato
chama a atenção pelo prodigioso caráter da ação de Deus: Era inverno e uma
parenta visitava a santa quando a mesma pediu uma flor, a visita mesmo sem
entender para ser gentil não hesitou em fazê-la, para sua surpresa deparou-se
com uma única rosa no jardim.
Quatro anos se passam e a situação de
saúde se agravava, no feliz dia de sua despedida deste mundo segundo relatos a
santa pediu perdão às outras monjas pelos incômodos causados pelo seu estado de
saúde, recebeu uma última benção e entrou em silêncio profundo, aos 76 anos
pode enfim contemplar a alegria infinita, no dia 22 de maio de 1457. Sabe-se
que pela condição de saúde pouco se alimentava, a não ser da Eucaristia.
II – Vivência da
Escravidão de Amor
Rita foi educada na fé católica
como já dissemos antes, inúmeros são os relatos de experiências com a Virgem
Maria que comprovam a devoção por ela nutrida: quando criança fora ensinada a
mandar beijos para as sagradas imagens da Imaculada, tentava a todo custo
espelhar-se na família de Nazaré na condução de sua própria família, como Nossa
Senhora souber suportar a dor da perda de alguém amado (filhos e marido), mas,
sobretudo a imitação das virtudes da Santa Mãe de Deus um fato determinante em
sua vida, a principal característica de sua espiritualidade é o espírito de
mortificação e oração, a qual ela empregara a maior parte do seu tempo para
estas práticas, à oblação de sua obediência a vontade do Senhor, a fé ilimitada
nas promessas, a caridade para com os pobres e necessitados, o zelo para com o
projeto de Deus.
Se a essência da Escravidão de amor
é a entrega total a Jesus por meio da Virgem Maria, numa relação de filiação e
imitação daquilo que é agradável ao Senhor, verdadeiramente a Santa de Cássia
também viveu a total consagração de si, pela via das virtudes de Nossa Senhora,
e o fato de seu corpo se manter incorrupto eleva tanto a pureza que vivenciou
quanto as bem-aventuranças a exemplo da Mãe do Amor.
III – Devoção a Santa
Rita
O processo de beatificação iniciou
quase dois séculos depois de sua morte, no dia 08 de setembro de 1619 pelo Papa
Urbano VIII, porém só chegaram a conclusão em 1900 no pontificado de Leão XIII,
algumas correntes afirmam que pelo fato de ter morrido em odor de santidade o
povo já a cultuava como bem-aventurada, antes da canonização. Aclamada como
santa das causas impossíveis por causa dos milagres obtidos por sua intercessão,
sua fama logo se espalhou pela Europa e América Latina. De maneira bem
particular recebe o título de Madrinha dos sertões na região do Trairi, no
estado do Rio Grande do Norte, com devoção especialíssima na cidade de Santa
Cruz.
O seu biógrafo mais antigo relata
quarenta e seis milagres obtidos por sua intercessão dentre eles o que
resultaram na sua canonização foram:
1. O
Perfume que exalava de seu túmulo – fenômeno que chamou muita atenção, pois não
havia uma explicação lógica para este fato;
2.
Cura da cegueira irreversível de uma
menina;
3. Cura
de uma inflamação gastrointestinal de um idoso.
O importante é sabermos que é o
Bom Deus que opera tudo em todos por meio de Cristo e se utiliza das causas
segundas (criadas por Ele) a seu gosto e modo, para operar os mais diversos e
prodigiosos milagres.
O Beato João Paulo II em seu
pontificado no centenário da canonização de Santa Rita se pronunciou sobre a
bela vocação: “Rita foi reconhecida santa não tanto pela fama dos milagres que
a devoção popular atribui à eficácia de sua intercessão junto de Deus
todo-poderoso, porém, muito mais pela sua assombrosa normalidade da existência
cotidiana, por ela vivida como esposa e mãe, depois como viúva e enfim como
monja agostiniana”.
Santa
Rita de Cássia, rogai por nós!
BIBLIOGRAFIA
MAESTRO, Jesús Alvarez. Santa Rita de Cássia/ Jesús Alvarez Maestro: [tradução Paulo F.
Valério]. São Paulo: Paulinas, 2012. – (Coleção dom e graça)
MARCHI, Monsenhor Luís de. Santa Rita de Cássia. São Paulo: Paulus, 2009.
Mônica Mariana
Missionária DMD, graduanda do curso de Teologia.
Para citar esse artigo:
Mônica Mariana
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus | SANTA RITA DE CÁSSIA E A ESCRAVIDÃO DE AMOR
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2012/05/santa-rita-de-cassia-e-escravidao-de.html
Mônica Mariana
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus | SANTA RITA DE CÁSSIA E A ESCRAVIDÃO DE AMOR
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