domingo, 22 de maio de 2011

Virtudes de Nossa Senhora: Parte I

Maio, mês consagrado a Virgem Maria!
Especial de Formação: Virtudes de Nossa Senhora
“A devoção a Virgem Maria é mais ainda necessária aqueles que são chamados a uma perfeição particular”. (São Luís Maria de Montfort)

Profunda Humildade
“O orgulhoso procura o poder terreno, ao passo que o pobre em espírito busca o Reino dos Céus”. (Santo Agostinho)

            Ser humilde é sobretudo reconhecer que tudo o que possui provém da bondade infinita de Deus, é reconhecer-se enquanto criatura que prima pela vontade do Criador.
            Encontramos no <<Magnificat>> a síntese desse reconhecimento no Poder do Alto, a Virgem exclama: “O Todo Poderoso fez em mim maravilhas”. (Lc 1, 49).

Como colocar em prática a vivência?
            Para viver a Humildade de Nossa Senhora é necessário eliminar os venenos do orgulho, das vaidades e ambições. Num gesto concreto, viver a simplicidade desta Boa Mãe em toda a sua conduta.

O que os santos nos ensinam a respeito da Profunda Humildade?
“Sê da Imaculada, para que a tua consciência se faça cada dia ainda mais pura, Imaculada, tal como Ela é de Jesus, chegando a ser sua Mãe e conquistadora de corações para Ele”.
(São Maximiliano Maria Kolbe)

“Em meu coração arda sempre o fogo da vossa piedade e acenda-se para desejar para desejar o mais justo, o mais puro e a mais perfeita das virtudes”. (Frei Galvão, Escritos espirituais apud Consagra-te 2010).

Fé Viva
“A fé é um ato pessoal: a resposta livre do homem à iniciativa de Deus que se revela”. (CIC 166)

“A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita a obediência da fé” (CIC 148), em virtude de sua fé é que todas as gerações a proclamam bem-aventurada, e por isso que a Igreja em Maria Santíssima contempla a mais pura fé.
Alguns teólogos defendem o fato de Jesus não ter aparecido Ressuscitado, primeiramente a sua Mãe Santíssima pelo fato Dela possuir tamanha fé, e não ter a necessidade de um sinal visível da vitória do seu Filho sobre o Mal. Podemos meditar essa hipótese enquanto exercício espiritual, tendo em vista a definição da Santa Igreja Católica, que testifica a aparição primeira a Maria Madalena.

Como colocar em prática a vivência da Fé Viva?
            Fé é crer sem medidas, “acreditar sem ver”, tudo esperar, pôr a confiança plenamente no Senhor e na sua graça.
            Nossa Senhora é aclamada sob o título de “Peregrina na Fé”, aquela que em nenhum momento de sua vida foi movida por seus próprios sentimentos e sim pela mais pura e bela fé no Senhor. Para vivenciar a sua Fé Viva é preciso sair do comodismo, da vida de murmuração... E por os olhos somente no Senhor! Para este fim devemos nos filiar a Virgem Santa, para que Ela nos faça enxergar a luz do Espírito Santo nossas mínimas comodidades que não agradam a Deus, e como uma Boa Mãe  nos apontar o caminho, para que ergamos o olhar para o Alto.

O que os santos nos ensinam a respeito da fé?
“A fé da Virgem Maria foi a maior que já houve na Terra, maior que a de todos os patriarcas, profetas, apóstolos e todos os santos”. (São Luís Maria Montfort)

“Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus escreva o resto”. (Santo Agostinho)

Obediência Cega
“Vale mais a obediência que os maiores sacrifícios”. (Sm 15, 12b)

            Obedecer aos superiores é sinal de humildade e de amor aos projetos de Deus, tendo em vista que aqueles a quem o Senhor confia o pastoreio de algum grupo ou comunidade são por assim dizer a sua personificação em nosso meio, mesmo em meio à miséria humana, a graça de Deus é a força latente que sobressai o pecado.
            A Virgem Maria pela sua obediência vence o inimigo de Deus por sua humildade perfeita, mas acima de tudo porque em tudo quis fazer a vontade do Pai, disse Sim a Ele em todas as coisas.

Como colocar em prática a vivência da Obediência Cega?
            Deixando que sua vida seja impregnada pelas palavras da Mãe de Deus “Eis aqui a Escrava do Senhor, faça-se em mim conforme a tua palavra”. (Lc 1, 38). Reconhecer que enquanto batizados devemos estar a serviço da Igreja, e se vivemos em comunidade, mesmo numa realidade paroquial, deve-se ver na pessoa do coordenador a manifestação divina.

O que os santos nos ensinam a respeito da obediência?
“Cada um de nós tem suas próprias opiniões e isso não se opõe à virtude. O que se opõe a virtude é o apego que temos às nossas opiniões”. (São Francisco de Sales)

“Qual é o meio mais seguro para saber e aceitar em nossas ações o que Deus quer de nós? Não há meio mais seguro e mais certo do que obedecer aos nossos superiores e diretores”. (Santo Afonso Maria de Ligório)

Referências:

IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.

CARVALHO, César Augusto Saraiva de; CARVALHO, Mara Lúcia Figueirêdo Vieira de. CONSAGRA-TE! Espiritualidade Mariana na Vida dos Santos. Natal: Mater Dei Gráfica e Editora, 2010.


Para citar esse artigo:
Mônica Mariana - "Virtudes de Nossa Senhora: Parte I"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com/2011/05/virtudes-de-nossa-senhora-parte-i_12.html
Online, 10/05/2011









Mônica Mariana
Missionária DMD, graduanda do curso de Teologia.

Virtudes de Nossa Senhora: Parte II


Contínua Oração
“A oração é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes”. (S. João Damasceno apud CIC 2559)

A oração é o encontro entre Deus e os homens, que brota do mais íntimo do homem, do coração. Se ele (o coração) está longe de Deus, “a expressão da oração é vã”. (CIC 2562). No coração é que está presente a inquietude e aflição humana impostas pelo mundo, à oração caindo sobre essa terra, assemelha-se a um bálsamo que sara as feridas mais profundas do ser.
Se não estamos firmes na vida de oração, facilmente somos vencidos pela tentação!
Como colocar em prática a vivência?
Reconhecer a necessidade da intimidade e do diálogo com o Senhor, através da oração. A nossa Igreja oferece aos fiéis diversas maneiras de alimentar a vida de oração, através dos diversos ritos que nela existem: Sagrada Escritura, Liturgia das Horas, orações da manhã, noite e etc.
O que os santos nos ensinam a respeito da Contínua Oração?
“Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”. (Santa Teresinha do Menino Jesus)
“Da oração depende a nossa mudança de vida, o vencer das tentações; dela depende conseguirmos o amor de Deus, a perfeição, a perseverança e a salvação eterna”. (Santo Afonso Maria de Ligório)
Ardente Caridade
“A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor a Deus”. (CIC 1822)

A caridade foi o novo mandamento instituído por Jesus. Ele comeu com os pecadores, cobradores de impostos, os mais rejeitados pela sociedade, para nos ensinar que o Amor é a maior escola de formação que já existiu. Ao contemplar sua face doce e amorosa, não houve alternativa para as suas almas se não renderem-se ao seu infinito amor.
O amor gera frutos incontáveis! Na cruz Ele se deu num ápice de amor, perdoou os nossos pecados, fez a vontade do Pai até o fim e deu-nos a sua Mãe, por herança.

Como colocar em prática a vivência?
            Contemplar o Cristo que se apresenta a nós no nosso próximo, sobretudo nos mais pobres, especialmente pobres de amor.
O que os santos nos ensinam a respeito da Ardente Caridade?
"A caridade é como o andar do espírito. Se tens dois pés, não coxeies. Ama a Deus e ama a teu próximo." (Santo Agostinho)
"O amor por Mim e pelo próximo são uma só coisa". (Santa Catarina de Sena)
"A medida do amor é amar sem medida." (Santo Agostinho)

Pureza Divina
“O Espírito Santo concede o dom de imitar a pureza de Cristo àquele que foi regenerado pela água do Batismo”. (CIC 2345)

A pureza foi a virtude que envolveu a Virgem Maria de forma sobrenatural desde o momento de sua concepção, todavia a sua vida foi orientada para a sua vocação, ser a Mãe de Deus e por isto a sua pureza compreendia não somente o aspecto físico, como também o moral e o espiritual.
Lembremo-nos que “a pureza exige o pudor” (CIC 2521), para preservar o corpo da concupiscência guardemos a alma e os sentidos das coisas que possam instigá-los a corrupção. O pudor ou o resguardar-se está ordenado a castidade, orienta os sentidos a “conformidade com a dignidade das pessoas e de sua união”. (CIC 2521)
Como colocar em prática a vivência?
Através da vivência sadia com as criaturas, prezar pela prática dos frutos do Espírito Santo e pela oração resistir às obras da Carne.
O que os santos nos ensinam a respeito da Pureza Divina?
“Ó santa pureza, és o templo do Espírito Santo, a vida dos Anjos e a coroa dos Santos”. (Santo Atanásio)
“A pureza nos eleva até o céu e nos faz deixar a terra”. (Santo Ambrósio)
“A virtude da pureza nos põe entre os anjos, que parece mesmo elevar-se por sobre eles”. (São João Maria Vianney)


Referências:
IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.

CARVALHO, César Augusto Saraiva de; CARVALHO, Mara Lúcia Figueirêdo Vieira de. CONSAGRA-TE! Espiritualidade Mariana na Vida dos Santos. Natal: Mater Dei Gráfica e Editora, 2010.


Para citar esse artigo:
Mônica Mariana - "Virtudes de Nossa Senhora: Parte II"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com/2011/05/virtudes-de-nossa-senhora-parte-ii.html
Online, 22/05/2011









Mônica Mariana
Missionária DMD, graduanda do curso de Teologia.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Carta do Beato João Paulo II às famílias Monfortinas sobre a doutrina do seu Fundador


Aos Religiosos e às Religiosas
das Famílias Monfortinas

Um texto clássico da espiritualidade mariana

1. Há 160 anos foi publicada uma obra destinada a tornar-se um clássico da espiritualidade mariana. São Luís Maria Grignion de Montfort compôs o Tratado sobre a verdadeira devoção à Virgem Santíssima no início de 1700, mas o manuscrito permaneceu praticamente desconhecido por mais de um século. Quando finalmente, quase por acaso, em 1842 foi descoberto e em 1843 foi publicado, teve sucesso imediato, revelando-se uma obra de eficiência extraordinária para a difusão da "verdadeira devoção" à Virgem Santíssima. Eu próprio, nos anos da minha juventude, tirei grandes benefícios da leitura deste livro, no qual "encontrei a resposta às minhas perplexidades" devidas ao receio que o culto a Maria, "dilatando-se excessivamente, acabasse por comprometer a supremacia do culto devido a Cristo" (Dom e mistério, pág. 38). Sob a orientação sábia de São Luís Maria compreendi que, quando se vive o mistério de Maria em Cristo, esse risco não subsiste. O pensamento mariológico do Santo, de facto, "está radicado no Mistério trinitário e na verdade da Encarnação do Verbo de Deus (ibid.).
A Igreja, desde as suas origens, e sobretudo nos momentos mais difíceis, contemplou com particular intensidade um dos acontecimentos da Paixão de Jesus Cristo, referido a São João:  "Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali de pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe:  "Mulher, eis o teu filho!". Depois, disse ao discípulo:  "Eis a tua mãe!". E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua" (Jo 19, 25-27). Ao longo da sua história, o Povo de Deus experimentou esta doação feita por Jesus crucificado:  a doação da sua Mãe. Maria Santíssima é verdadeiramente a nossa Mãe, que nos acompanha na nossa peregrinação de fé, esperança e caridade rumo à união cada vez mais intensa com Cristo, único salvador e mediador da salvação (cf. Const. Lumen gentium, 60 e 62).
Como se sabe, no meu brasão episcopal, que é a ilustração simbólica do texto evangélico acima citado, o mote Totus tuus está inspirado na doutrina de São Luís Maria Grignion de Montfort (cf.Dom e mistério, págs. 38-39:  Rosarium Virginis Mariae, 15). Estas duas palavras exprimem a pertença total a Jesus por meio de Maria:  "Tuus totus ego sum, et omnia mea tua sunt", escreve São Luís Maria; e traduz:  "Eu sou todo teu, e tudo o que é meu te pertence, meu amável Jesus, por meio de Maria, tua Santa Mãe" (Tratado sobre a verdadeira devoção, 233). A doutrina deste Santo exerceu uma profunda influência sobre a devoção mariana de muitos fiéis e sobre a minha própria vida. Trata-se de uma doutrina vivida, de grande profundidade ascética e mística, expressa com um estilo vivo e fervoroso, que usa com frequência imagens e símbolos. A partir do tempo em que São Luís Maria viveu, a teologia mariana contudo desenvolveu-se muito, sobretudo mediante o contributo decisivo do Concílio Vaticano II. Por conseguinte, hoje, deve ser lida novamente e interpretada à luz do Concílio a doutrina monfortina, que conserva de igual modo a sua substancial validade.
Com esta Carta, gostaria de partilhar convosco, Religiosos e Religiosas das Famílias Monfortinas, a meditação de alguns trechos dos escritos de São Luís Maria, que nos ajudam nestes momentos difíceis a alimentar a nossa confiança na meditação da Mãe do Senhor.
Ad Iesum per Mariam
2. São Luís Maria propõe com singular eficiência a contemplação amorosa do mistério da Encarnação. A verdadeira devoção mariana é cristocêntrica. Com efeito, como recordou o Concílio Vaticano II, "a Igreja, meditando piedosamente na Virgem, e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, penetra mais profundamente, cheia de respeito, no insondável mistério da Encarnação" (Const. Lumen gentium, 65).
O amor de Deus mediante a união a Jesus Cristo é a finalidade de qualquer devoção autêntica, porque como escreve São Luís Maria Cristo "é o nosso único mestre e deve instruir-nos, o nosso único Senhor do qual devemos depender, a nossa única Cabeça à qual devemos permanecer unidos, o nosso único modelo com o qual nos devemos conformar, o nosso único médico que nos deve curar, o nosso único pastor que nos deve alimentar, o nosso único caminho que nos deve vivificar e o nosso único tudo, em todas as coisas, que nos deve satisfazer" (Tratado sobre a verdadeira devoção, 61).
3. A devoção à Santa Virgem é um meio privilegiado "para encontrar Jesus Cristo, para o amar com ternura e para o servir com fidelidade" (Tratado sobre a verdadeira devoção, 62). Este desejo central de "amar com ternura" é imediatamente dilatado numa fervorosa oração a Jesus, pedindo a graça de participar na indizível comunhão de amor que existe entre Ele e a sua Mãe. A relatividade total de Maria a Cristo, e, n'Ele, à Santíssima Trindade, é antes de mais experimentada na observação:  "Todas as vezes que pensas em Maria, Maria louva e honra contigo a Deus. Maria é toda relativa a Deus, e eu chamá-la-ia muito bem a relação de Deus, que existe unicamente em relação a Deus, o eco de Deus, que não diz e não repete a não ser Deus. Se dizes Maria, ela repete Deus. Santa Isabel louvou Maria e proclamou-a bem-aventurada porque acreditou. Maria o eco fiel de Deus entoou:  Magnificat anima mea Dominum:  a minha alma louva ao Senhor. Aquilo que Maria fez naquela ocasião, repete-o todos os dias. Quando é louvada, amada, honrada ou recebe algo, Deus é louvado, Deus é amado, Deus recebe pelas mãos de Maria e em Maria"(Tratado sobre a verdadeira devoção, 225).
É ainda na oração à Mãe do Senhor que São Luís Maria exprime a dimensão trinitária da sua relação com Deus:  "Saúdo-te Maria, Filha predileta do Pai eterno! Saúdo-te Maria, Mãe admirável do Filho! Saúdo-te Maria, Esposa fidelíssima do Espírito Santo!" (Segredo de Maria,68). Esta tradicional expressão, já usada por São Francisco de Assis (cf. Fontes Franciscanas,281), mesmo contendo níveis heterogéneos de analogia, é sem dúvida eficaz para exprimir de certa  forma  a  peculiar  participação  de Nossa  Senhora  na  vida  da  Santíssima Trindade.
4. São Luís Maria contempla todos os mistérios da Encarnação que se realizou no momento da Anunciação. Assim, no Tratado sobre a verdadeira devoção, Maria é apresentada como "o verdadeiro paraíso terrestre do Novo Adão", a "terra virgem e imaculada" pela qual Ele foi plasmado (n. 261). Ela é também a Nova Eva, associada ao Novo Adão na obediência que repara a desobediência original do homem e da mulher (cf. ibid., 53; Santo Ireneu Adversus haereses, III 21, 10-22, 4). Por meio desta obediência, o Filho de Deus entra no mundo. A mesma Cruz já está misteriosamente presente no momento da Encarnação, no momento em que Jesus é concebido no seio de Maria. Com efeito, o  ecce  venio,  da  Carta  aos  Hebreus (cf. 10, 5-9) é o acto primordial da obediência do Filho ao Pai, aceitação do seu Sacrifício redentor "quando entra no mundo".
"Toda a nossa perfeição escreve São Luís Maria Grignion de Montfort consiste em ser conformes, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Por isso, a mais perfeita de todas as devoções é incontestavelmente a que nos conforma, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Mas, sendo Maria a criatura mais conforme a Jesus Cristo, tem-se como resultado que, entre todas as devoções, a que consagra e conforma mais uma alma a nosso Senhor é a devoção a Maria, sua Mãe santa, e que quanto mais uma alma estiver consagrada a Maria, tanto mais estará consagrada a Jesus Cristo" (Tratado sobre a verdadeira devoção, 120). Dirigindo-se a Jesus, São Luís Maria exprime como é maravilhosa a união entre o Filho e a Mãe:  "Ela é de tal forma transformada em ti pela graça, que não vive mais, não existe mais:  és unicamente Tu, meu Jesus, que vives e reinas nela... Ah! se conhecêssemos a glória e o amor que tu recebes nesta maravilhosa criatura... Ela está tão intimamente unida... De facto, ela ama-te mais ardentemente e glorifica-te mais perfeitamente do que todas as outras criaturas juntas" (Ibid., 63).
Maria, membro eminente do Corpo místico e Mãe da Igreja
5. Segundo as palavras do Concílio Vaticano II, Maria "é saudada como membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade" (Const.Lumen gentium, 53). A Mãe do Redentor é também redimida por ele, de maneira única na sua Imaculada Conceição, e precedeu-nos naquela escuta crente e cheia de amor da Palavra de Deus que nos torna bem-aventurados (cf. ibid., 58). Também por isso, Maria "está intimamente unida à Igreja:  a Mãe de Deus é a figura (typus) da Igreja, como já ensinava Santo Ambrósio, isto é, na ordem da fé, da caridade e da união perfeita com Cristo. De facto, no mistério da Igreja, que é também chamada justamente mãe e virgem, a Bem-Aventurada Virgem Maria é a primeira, dando de modo eminente e singular o exemplo de virgem e de mãe" (Ibid., 63). O próprio Concílio contempla Maria como Mãe dos membros de Cristo (cf. ibid., 53; 62), e assim Paulo VI a proclamou Mãe da Igreja. A doutrina do Corpo místico, que exprime de maneira mais forte a união de Cristo com a Igreja, é também o fundamento bíblico desta afirmação. "A cabeça e os membros pertencem à mesma mãe" (Tratado sobre a verdadeira devoção, 32), recorda-nos São Luís Maria. Neste sentido, dizemos que, por obra do Espírito Santo, os membros estão unidos e conformados com Cristo Cabeça, Filho do Pai e de Maria, de tal modo que "qualquer verdadeiro filho da Igreja deve ter Deus como Pai e Maria como Mãe" (Segredo de Maria, 11).
Em Cristo, Filho unigénito, somos realmente filhos do Pai e, ao mesmo tempo, filhos de Maria e da Igreja. Com o nascimento virginal de Jesus, de certa forma é toda a humanidade que renasce. À Mãe do Senhor "podem ser aplicadas, de maneira mais verdadeira de quanto São Paulo as aplica a si mesmo, estas palavras:  "Meus filhos, por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme entre vós" (Gl 4, 19). Dou à luz todos os dias os filhos de Deus, enquanto não estiver formado neles Jesus Cristo, meu Filho, na plenitude da sua idade" (Tratado sobre a verdadeira devoção, 33). Esta doutrina encontra a sua expressão mais bela na oração:  "Oh! Espírito Santo, concede-me uma grande devoção e uma grande inclinação para Maria, um apoio sólido sobre o seu seio materno e um recurso assíduo à sua misericórdia, para que, nela, tu possas formar Jesus dentro de mim" (Segredo de Maria, 67).
Uma das expressões mais nobres da espiritualidade de São Luís Maria Grignion de Montfort refere-se à identificação do fiel com Maria no seu amor por Jesus, no seu serviço a Jesus.
Meditando o conhecido texto de Santo Ambrósio:  A alma de Maria esteja em cada um para glorificar o Senhor, o espírito de Maria esteja em cada um para exultar em Deus (Expos. in Luc., 12, 26:  PL 15, 1561), ele escreve:  "Como é feliz uma alma quando... está totalmente arrebatada e guiada pelo espírito de Maria, que é um espírito doce e forte, zeloso e prudente, humilde e corajoso, puro e fecundo" (Tratado sobre a verdadeira devoção, 258). A identificação mística com Maria está totalmente dirigida para Jesus, como se exprime na oração:  "Por fim, minha querida e amadíssima Mãe, se for possível, faz com que eu não tenha outro espírito a não ser o teu para conhecer Jesus Cristo e os seus desejos divinos; que não tenha outra alma a não ser a tua para louvar e glorificar o Senhor; que não tenha outro coração a não ser o teu para amar Deus com caridade pura e ardente como tu" (Segredo de Maria, 68).
A santidade perfeição da caridade
6. A Constituição Lumen gentium recita ainda:  "Mas, ao passo que, na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já aquela perfeição sem mancha nem ruga que lhe é própria (cf. Ef 5, 27), os fiéis ainda têm de trabalhar por vencer o pecado e crescer na santidade; e por isso levantam os olhos para Maria, que brilha como modelo de virtudes sobre toda a família dos eleitos" (n. 65). A santidade é perfeição da caridade, daquele amor a Deus e ao próximo que é o objecto do maior mandamento de Jesus (cf. Mt 22, 38), e é também o maior dom do Espírito Santo (cf. 1 Cor 13, 13). Assim, nos seus Cânticos, São Luís Maria apresenta sucessivamente aos fiéis a excelência da caridade (Cântico 5), a luz da fé (Cântico 6) e a firmeza na esperança (Cântico 7).
Na espiritualidade monfortina, o dinamismo da caridade é expresso especialmente através do símbolo da escravidão do amor a Jesus a exemplo e com a ajuda materna de Maria. Trata-se da comunhão plena na kenosis de Cristo; comunhão vivida com Maria, intimamente presente nos mistérios da vida do Filho. "Não há nada entre os cristãos que faça pertencer de maneira mais absoluta a Jesus Cristo e à sua Santa Mãe como a escravidão da vontade, segundo o exemplo do próprio Jesus Cristo, que assumiu as condição de escravo por amor a nós formam servi accipiense da Santa Virgem, que se considerou serva e escrava do Senhor. O apóstolo honra-se do título deservus Christi. Várias vezes, na Sagrada Escritura, os cristãos são chamados servi Christi" (Tratado sobre a verdadeira devoção, 72). De facto, o Filho de Deus, que veio ao mundo em obediência ao Pai na Encarnação (cf. Hb 10, 7), humilhou-se depois fazendo-se obediente até à morte, e morte de Cruz (cf. Fl 2, 7-8). Maria correspondeu à vontade de Deus com o dom total de si, corpo e alma, para sempre, desde a Anunciação até à Cruz, e da Cruz até à Assunção.
Certamente, entre a obediência de Cristo e a obediência de Maria existe uma assimetria determinada pela diferença ontológica entre a Pessoa divina do Filho e a pessoa humana de Maria, do que deriva também a exclusividade da eficiência salvífica fontal da obediência de Cristo, da qual a sua própria Mãe recebeu a graça para poder obedecer de modo total a Deus e assim colaborar com a missão do seu Filho.
Por conseguinte, a escravidão de amor deve ser interpretada à luz do admirável intercâmbio entre Deus e a humanidade no mistério do Verbo encarnado. É um verdadeiro intercâmbio de amor entre Deus e a sua criatura na reciprocidade da doação total de si. "O espírito desta devoção... é tornar a alma interiormente dependente e escrava da Santíssima Virgem e de Jesus por meio dela"(Segredo de Maria, 44). Paradoxalmente, este "vínculo de caridade", esta "escravidão de amor" torna o homem plenamente livre, com a verdadeira liberdade dos filhos de Deus (cf. Tratado sobre a verdadeira devoção, 169). Trata-se de se entregar totalmente a Jesus, respondendo ao Amor com que Ele nos amou primeiro. Qualquer pessoa que viver neste amor pode dizer como São Paulo:  "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20).
A "peregrinação da fé"
7. Na Novo millennio ineunte escrevi que "se alcança Jesus unicamente pelo caminho da fé" (n. 19). Foi precisamente este o caminho seguido por Maria durante toda a sua vida terrena, e é o caminho da Igreja peregrina até ao fim dos tempos. O Concílio Vaticano II insistiu muito sobre a fé de Maria, misteriosamente partilhada pela Igreja, pondo em realce o itinerário de Nossa Senhora desde o momento da Anunciação até ao momento da Paixão redentora (cf. Const. Lumen gentium, 57 e 67; Carta enc. Redemptoris Mater, 25-27).
Nos escritos de São Luís Maria encontramos a mesma ênfase sobre a fé vivida pela Mãe de Jesus num caminho que vai da Encarnação até à Cruz, uma fé na qual Maria é modelo e tipo da Igreja. São Luís Maria expressa-o com riqueza de imagens quando expõe ao seu leitor os "efeitos maravilhosos" da perfeita devoção mariana:  "Portanto, quanto mais ganhares a benevolência desta venerável Princesa e Virgem fiel, tanto mais o teu comportamento de vida estará inspirado pela fé pura. Uma fé pura, portanto não te preocuparás minimamente de quanto é sensível e extraordinária. Uma fé viva e animada pela caridade, que te fará agir unicamente com motivo do amor puro. Uma fé firme e inabalável como uma rocha, que te fará permanecer firme e constante no meio de furacões e de tempestades. Uma fé laboriosa e penetrante que, como misteriosa chave polivalente, te fará entrar em todos os mistérios de Jesus Cristo, nos fins últimos do homem e no coração do próprio Deus. Uma fé corajosa, que te fará empreender e concretizar sem hesitações coisas grandes para Deus e para a salvação das almas. Por fim, uma fé que será a tua chama ardente, a tua vida divina, o teu tesouro escondido da Sabedoria divina e a tua arma omnipotente, com a qual esclarecerás todos os que são tíbios e têm necessidade do ouro ardente da caridade, darás de novo vida aos que morreram por causa do pecado, comoverás e perturbarás com as tuas palavras suaves e fortes os corações de pedra e os cedros do Líbano e, por fim, resistirás ao demónio e a todos os inimigos da salvação" (Tratado sobre a verdadeira devoção, 214).
Como São João da Cruz, São Luís Maria insiste principalmente sobre a pureza da fé e sobre a sua essencial e muitas vezes dolorosa obscuridade (cf. Segredo de Maria, 51, 52). É a fé contemplativa que, renunciando às coisas sensíveis ou extraordinárias, penetra nas profundezas misteriosas de Cristo. Assim, na sua oração, São Luís Maria dirige-se à Mãe do Senhor dizendo:  "Não te peço visões ou revelações, nem gostos ou delícias, mesmo só espirituais... Aqui na terra, eu quero que me pertença unicamente o que tu quiseres, isto é:  crer com fé pura sem nada provar ou ver" (ibid., 69). A Cruz é o momento culminante da fé que Maria tem, como escrevi na Encíclica Redemptoris Mater "Maria participa mediante a fé no mistério desconcertante desse despojamento... Isso constitui, talvez, a mais profunda "kenosis" da fé na história da humanidade" (n. 18).
Sinal de esperança certa
8. O Espírito Santo convida Maria a "reproduzir-se" nos seus eleitos, alargando até eles as raízes da sua "fé invencível", mas também da sua "firme esperança" (cf. Tratado sobre a verdadeira devoção, 34). O Concílio Vaticano II recordou quanto segue:  "A Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há-de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor (Const. Lumen gentium, 68). Esta dimensão escatológica é contemplada por São Luís Maria sobretudo quando fala dos "santos dos últimos tempos", formados pela Virgem Santa para levar à Igreja a vitória de Cristo sobre as forças do mal (cf. Tratado sobre a verdadeira devoção, 49-59). Não se trata de modo algum de uma forma de "milenarismo", mas do sentido profundo da índole escatológica da Igreja, ligada à unicidade e universalidade salvífica de Jesus Cristo. A Igreja espera a vinda gloriosa de Jesus no fim dos tempos. Como Maria e com Maria, os santos são na Igreja e para a Igreja, para fazer resplandecer a sua santidade, para alargar até aos confins do mundo e até ao fim dos tempos a obra de Cristo, único Salvador.
Na antífona Salve Regina, a Igreja chama a Mãe de Deus "nossa Esperança". A mesma expressão é usada por São Luís Maria a partir de um texto de São João Damasceno, que aplica a Maria o símbolo bíblico da âncora (cf. Hom. 1ª in Dorm. B.V.M.:  PG 96, 719):  "Nós unimos as almas a ti, nossa esperança, como a uma âncora firme. A ela afeiçoaram-se em maior medida os santos que se salvaram e fizeram afeiçoar os outros, para que perseverassem na virtude. Portanto, bem-aventurados, infinitamente bem-aventurados os cristãos que hoje se mantêm unidos a ela fiel e totalmente como a uma âncora firme" (Tratado sobre a verdadeira devoção, 175). Através da devoção a Maria, o próprio  Jesus  "alarga  o  coração  com uma  santa  confiança  em  Deus,  fazendo com que ele seja visto como Pai e inspirando um amor terno e filial" (Ibid., 169).
Juntamente com a Virgem Santa, com o mesmo coração de mãe, a Igreja reza, espera e intercede pela salvação de todos os homens. São as últimas palavras da constituição Lumen gentium: "Dirijam todos os fiéis instantes súplicas à Mãe de Deus e mãe dos homens, para que ela, que assistiu com as suas orações aos começos da Igreja, também agora, exaltada sobre todos os anjos e bem-aventurados, interceda, junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, até que todos os povos, tanto os que ostentam o nome cristão, como os que ainda ignoram o Salvador, se reúnam felizmente, em paz e harmonia, no único Povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade" (n. 69).
Fazendo de novo meus estes votos, que juntamente com os outros Padres Conciliares expressei há quase quarenta anos, envio a toda a Família monfortina uma especial Bênção apostólica.



Vaticano, 8 de Dezembro de 2003, Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Totus Tuus

                Todos sabem que o amadíssimo Papa João Paulo II, beatificado no primeiro dia deste mês mariano, escolheu por mote do seu ministério a expressão latina “Totus Tuus”: Todo Teu. O que nem todos conhecem é a origem e o significado profundo que motivaram o Papa Polonês a fazer tal escolha. No livro “Dom e Mistério”, João Paulo II falou abertamente sobre o tema. Percorramos alguns trechos do escrito. Assim escreveu o Pontífice: “...no período em que ia-se configurando a minha vocação sacerdotal (...), meu modo de compreender o culto da mãe de Deus sofreu certa alteração. Estava já convencido de que Maria nos conduz a Cristo, mas, nesse período, comecei a compreender que também Cristo nos conduz a sua mãe. Houve um tempo em que, de certa forma, pus em discursão o meu culto por Maria... Foi então que veio em minha ajuda o livro de São Luiz Maria Grignon de Montfort, o ‘Tratado da Verdadeira devoção à Virgem Santa’. Nele encontrei a resposta às minhas perplexidades. Sim, Maria aproxima-nos de Cristo, conduz-nos a ele, com a condição de que se viva o seu mistério em Cristo” (Dom e Mistério, Paulinas 1997, pp. 37-38). Na continuação o Papa trata especialmente do lema “Totus Tuus”, que foi retirado do n. 233 do Tratado de Montfort, quando ele ensina um modo simples de renovar nossa total dependência de Jesus (chamada também de “escravidão de amor”) por meio de Maria com as seguintes palavras: “ Totus Tuus ego sum, et omnia mea tua sunt – Sou todo vosso e tudo o que tenho vos pertence, ó meu amável Jesus, por Maria, vossa Mãe Santíssima”.
                O Papa Beato faz também um forte elogio a São Luiz, chamando-o de “teólogo de classe”, muito embora condicionado a linguagem do seu tempo, o que obviamente deve ser adaptada para nossos dias, e acrescenta: “Assim, graças a São Luiz, comecei a descobrir todos os tesouros da devoção mariana, a partir de um ângulo, de certa forma, novo” (Dom e Mistério, p.39). Tenho conhecimento que muitos católicos aproveitam o mês de maio par ler o Tradado da Verdadeira devoção, mesmo sob críticas de alguns doutos, que se obstinam em subestimar ou menosprezar a devoção à Santíssima Virgem. Em nossa Arquidiocese temos a graça de ver uma Comunidade com o carisma montfortino, a Fraternidade Discípulos da  Mãe de Deus, além de tantos outros grupos e devotos, que difundem o carisma da Verdadeira devoção. Todos eles devem seguir firmes na vocação, pois têm a autoridade e o exemplo de um grande Papa para lhes respaldar, devendo apenas ter o cuidado do justo equilíbrio na linguagem empregada, que não pode ser a mesma do época de S. Luiz, como também recorda o Papa. De resto, creio que, a vida de cada um de nós, especialmente dos sacerdotes, poderia ser muito mais autentica e fecunda se, em vez de tantas sujeições/escravidões fúteis e maléficas, nossa dependência fosse inteira de Jesus através do caminho perfeito e seguro da pura e santa devoção a Maria, Mãe da Igreja.




Pe. José Lenilson de Morais é Escravo de Amor da Ss. Virgem Maria e Administrador da Paróquia de Nossa Senhora do Ó - Nísia Floresta/RN.



 

Para citar esse artigo:
Padre José Lenilson - "Totus Tuus"
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com/2011/05/totus-tuus.html
Online, 10/05/2011

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mãe Imaculada

No mês de Maria, uma reflexão especial sobre sua maternidade:
Durante todo o mês de maio nossas comunidades católicas do mundo inteiro cantam a “Ladainha de Nossa Senhora”. Entre os títulos com os quais a Virgem Maria é invocada está aquele de “Mãe Imaculada”. Nesta invocação está presente a singularidade da maternidade da Maria: sua total ligação e dependência do mistério de Cristo. O já Beato João Paulo II, quando governava reinante na Cátedra de Pedro escrevera: “Só no mistério de Cristo se esclarece plenamente seu mistério (de Maria). Foi assim, de resto, que a Igreja, desde o principio, procurou fazer sua leitura: o mistério da Encarnação permitiu-lhe entender e esclarecer cada vez melhor o mistério da Mãe do Verbo Encarnado” (Redemptoris Mater, n. 4).
O Autor Sagrado, no livro do Gênesis, havia prefigurado a ligação intrínseca entre a salvação do gênero humano e a maternidade da Imaculada, mostrando a vitória desta em contraposição a vergonhosa derrota de Eva, “mãe dos viventes”. Diz o texto sagrado em Gn 3, 15: “Ela te esmagarás à cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. Sendo a Virgem Maria, desde sempre, Mãe Imaculada, teologicamente, a tradução mais coerente é aquela apresentada por S. Luiz Maria G. de Montfort: “Ela (Maria e sua descendência, isto é, o Cristo total: Cabeça e membros, que constituem a única Igreja) te esmagará a cabeça, e tu armarás ciladas ao seu calcanhar” (Tratado da Verdadeira Devoção, n. 51). Note-se bem: uma coisa é ferir o calcanhar, outra, bem diferente, é “armar ciladas”. S. Luiz de Montfort – que não era um piedoso ingênuo, como alguns pensam, mas um teólogo muito bem preparado – sabia que a Mãe de Deus jamais poderia ser ferida com qualquer mancha ou gota do veneno da Antiga serpente. O demônio pode até lançar sua fumaça maldita no Santuário de Deus, como vez por outra vemos acontecer, mas a Mãe Imaculada é intacta e, por causa de Cristo e da sua íntima união com ele, Satanás não ousou aproximar-se para tentá-la. Se o próprio Cristo foi tentado deve-se ao fato de ser necessário redimir o homem em todas as suas debilidades. Como dizem os Santos Padres “foi tentado para nos ensinar a vencer as tentações”. Mas Maria foi “salva” por privilégio e graça singular não podendo passar pelas tentações, uma vez que o Pai a preservara desde o exato momento de sua concepção. Aquilo que os Santos, remidos pelo sangue do cordeiro, recebem na Glória, Maria recebeu desde a sua geração: a impossibilidade do contágio do mal.
Esta é a Mãe do Redentor, esta é a Mãe da humanidade. Em tempos difíceis para a Igreja, o modelo e a intercessão da Mãe Imaculada devem ser uma constante em nossa vida. Depois de Jesus, só ela pode nos ensinar o caminho certo, seguro e decidido para esmagar a cabeça de Satã seja qual for a sua veste nestes dias. O filme “O Ritual” mostra que ele não está parado, e a história da Igreja comprova suas infernais investidas.
Mãe Imaculada, Rogai por nós!
 Fonte: Paróquia de Nossa Senhora do Ó, Nísia Floresta/RN Blog da Paróquia

 



Pe. José Lenilson de Morais é Escravo de Amor da Ss. Virgem Maria e Administrador da Paróquia de Nossa Senhora do Ó - Nísia Floresta/RN.